Thursday, June 19, 2025

 


HOMENAGEM a FRANCISCO MIGUEL MOURA  

     ( Maior  Voz da Literatura do  PIAUI)


LUZ DO SERTÃO LITERÁRIO

    (Soneto de Alberto Araújo)


Francisco, mestre em verso e coração,

No chão do Piauí fez moradia,

Plantou palavras, frutos de harmonia,

No tempo e na ternura da emoção.


Do Jenipapeiro à imensidão,

Sua pena constrói sabedoria,

Fez da poesia luz, filosofia,

E um canto eterno à terra e à paixão.


Hoje, aos noventa e dois, brilhas com glória,

És farol da memória nordestina,

E herdeiro fiel da nossa história.


A tua voz, que o tempo não declina,

Ecoa viva — na alma, na vitória,

De um povo que em teus versos se ilumina.

_____________ 

 P, S.  O FOCUS PORTAL CULTURAL, na pessoa de seu diretor Alberto Araújo, rende homenagens calorosas ao ilustre Francisco Miguel Moura, que neste dia 16 de junho de 2025 celebra 92 anos de vida e literatura. Nesta data significativa, reverenciamos não apenas o tempo vivido, mas a vastidão de uma obra que atravessa décadas com lucidez, beleza e compromisso com a cultura.

Natural do sertão piauiense, do lugar Jenipapeiro, hoje município de Francisco Santos — Chico Miguel, como também é carinhosamente chamado, é um dos nomes mais respeitáveis da intelectualidade nordestina e nacional. Poeta, ensaísta, cronista, romancista, jornalista e crítico literário, construiu uma trajetória pautada por um amor profundo às letras e ao seu Piauí natal.

Com formação em Letras pela Universidade Federal do Piauí e pós-graduação em Crítica de Arte pela Universidade Federal da Bahia, Francisco Miguel Moura é um mestre da palavra que sempre soube aliar erudição com sensibilidade. Fundador do Círculo Literário Piauiense e da revista Cirandinha, seu trabalho ultrapassa as fronteiras do Estado, dialogando com leitores e críticos do Brasil e de Portugal.

É ocupante da Cadeira nº 08 da Academia Piauiense de Letras, onde sucedeu Francisco da Cunha e Silva, e membro correspondente de instituições literárias prestigiadas como a Academia Mineira e a Catarinense de Letras. Sua presença ativa na imprensa, nas revistas e no rádio ao longo dos anos consolidou sua voz como referência cultural e formadora de gerações.

Casado com Maria Mécia Morais Araújo Moura, Francisco Miguel é também exemplo de dedicação à família e ao ofício da escrita. Aposentado do Banco do Brasil, dedica-se exclusivamente à leitura e à produção literária, oferecendo ao mundo obras que exaltam o amor à terra e ao ser humano, como mostram os volumes Um Canto de Amor à Terra e ao Homem e Fortuna Crítica.

Receba, mestre Francisco Miguel Moura, o nosso mais sincero abraço, repleto de gratidão e admiração. Que sua luz continue iluminando os caminhos da literatura brasileira. Parabéns pelos seus 92 anos de vida, sabedoria e poesia!  FRANCISCO MIGUEL MOURA, PARABÉNS!

Com carinho e respeito de "Focus Portal Cultural - RJ"

              Alberto Araújo, jornalista e poeta


Tuesday, June 17, 2025

 


NO DIA DOS NAMORADOS

                      Francisco Miguel de Moura*

 

Se os maus ladrões invadem nossas casas

e a rua onde passamos dia a dia

para o labor, pois que não temos asas,

que fazer pra alcançar nossa alegria?

 

Se nem falar, nas agonias grossas

podemos... Há alguém que nos espia

pra nos levar às grades. Culpas nossas?

Se um mau juiz nos pega e nos crucia?

 

Assim, vivemos tristes, na ilusão

de que nada da vida já nos resta.

E, em pensamento, um tempo da canção

 

nos chega, em dor... E o choro nos agrava

lembrando a namorada que destrava

nosso olhar, com amor no coração.

 

                  Teresina-PI, Dia dos namorados, 12.6.2025

__________

*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro.

Sunday, April 27, 2025

 


DIA DO LIVRO - SONETO

                Francisco Miguel de Moura*

 

Dia do livro é um dia tão brilhante

Como o sol do saber pra humanidade

Pois a Bíblia, o primeiro, é um gigante

Que os demais são seus filhos sem vaidade.

 

Mas não basta exaltá-los, na verdade,

Pois precisam ser lidos com o fervor

Que vem de dentro, agrade ou não agrade,

Para encontrar o saber ainda em flor.

 

Eis que o leitor, abrindo-o, é quem se abre

À luz perene, ao corte do seu sabre,

Para que a vida se encha de vigor.

 

A paixão da leitura é pela paz,

Leva a força que vence e que é capaz

Pela esperança que conduz o amor.

___________

*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro.

 

Thursday, April 17, 2025

 



INTERLAGOS - TROVAS PARA SOLON     

                          Francisco Miguel de Moura*                           

                   I

Solon tem uma fazenda

Onde estivemos um dia,

Depois do café, a agenda,

E ele próprio de guia.

 

Eu e ele (e a Mécia ia):

Um passeio de encomenda,

Em tão calma companhia,

Aos dois lagos e à fazenda.

 

Nunca vi tanta beleza!

Juntos a gente descia

A trilha, que por surpresa,

Ninguém cair não caía.

 

Água fresca para o banho:

Como a gente se extasia!

Oh! tempo bom sem tamanho,

Sol nascente, um belo dia!

 

 

Se houvesse tempo pro banho,

Oh! A gente banharia!

Assim mesmo, quanto ganho

Vendo a água que escorria.

 

Em dois, o lago se abria

E os peixes...  Quase eu apanho

Com a mão, que já tremia

Ao vento fresco tamanho!

 

Àgua limpa, sem arranho...

O morro ao longe extasia

E o cheiro da mata, o ganho

Que a fazenda oferecia. 

 

Descrevendo seu amanho,

Perguntei por sapo e jia,

Das que saltam e, em rebanho,

Cantam de noite e de dia:

 

- “Só na noite sem tamanho...

E os pássaros vêm de dia,

Eles cantam, com assanho,

Na madrugada mais fria”.

 

“Mais tarde vem o rebanho,

Todos cheios de alegria,

Buscando rações e amanho

Trazendo cantos de orgia.

 

Dias alegres...  Que ganho!

Tão logo que rompe o dia!

Quando é noite, já me apanho

Em Jaicós, minha guia”.

 

               II

Agora mudo de rima,

Pra mostrar o passadiço

E a gente não fica omisso...

Facas em cruz?...  Bem acima.

 

O sinal da paz que anima

A criatura... E por isso,

Saltamos os três, do clima,

Sem milagre, lembro disso.

 

Serviçal também havia

Pra fazer todo o serviço...

Uma porca já se via

E um cachorro roliço. 

 

 

Na casa cobra não ia

Por causa do passadiço

E da cerca que o seguia,

Pra não furar no enguiço.

 

Bastante perigo eu via,

Mas enfrentei sem feitiço,

Vencendo o perigo eu ia

Saltando em chão movediço...

 

De areia e pedra... Era isso

Que no outro lado havia.

Na volta, sem compromisso,

O mesmo salto eu fazia.

 

No salto pra dentro, ou isso,

Uma bela casa havia,

Casa limpa, por serviço

Do serviçal que o servia.

 

             III

 

Agora, pra terminar,

Deixo a rima noutro estado...

Sua viola vai tocar

E nós ouvindo a seu lado.

 

Tomamos cerveja e vinho

Ouvindo o tom-poesia...

Não preciso de adivinho

Pra dizer sua alegria.

 

Maior alegria, a nossa

Por tão poética poesia,

Alegre sem fazer mossa

Parou, voltar...Quem queria?

 

O dia estava em metade,

Voltamos naquele dia

Para o almoço de verdade

Que ele mandava e servia.

 

Solon tem tão alta estima

Por fazer tudo o que faz...

Muito obrigado! Não rima,

Mas é o que a gente traz.

 

Parabéns, grande Solon,

Com estes versos na mão,

Por tudo o que faz de bom

Por seu grande coração.

______________________

*Francisco Miguel de Moura, poeta e prosador, conhecido também

por Chico Miguel e amigo de José Solon Reis, um grande coração,

registrando um tempo bom que passou.

 

Friday, January 3, 2025


   

  IDEOLOGIA DE GÊNEROS, O QUE É ISTO?


       Francisco Miguel de Moura, escritor, membro da Academia Piauiense de Letras


Quando li a manchete no jornal, fiquei assustado: ‘O xente!’ Ideologia de gênios? Mas gênios não têm ideologias. A ideologia de gênios está somente na observação seja da natureza, seja do já criado pelo homem, para daí descobrir coisas novas e interessantes para o homem na terra e a prosperidade da sociedade que compartilha.

Mas, não! Havia me enganado. Perdão, leitores! O que estava escrito era “IDEOLOGIA DE GÊNEROS”, uma tal de modernidade que não tem valor científico nenhum. Não serve à humanidade.  Trata-se de ensinar na escola pública (e se puder também estender para a particular) a ideia estúpida de que não nascemos menino ou menina, nascemos como se não houvesse sexo, o que não é verdadeiro nem científico: é uma criação maléfica, nua e crua. Dizer que é uma estupidez de quem prega isto e ainda estende para a sociedade, o estado, é mais do que absurdo: é uma aberração.

A “feminista” Glória Steinen queixa-se da “falsa divisão da natureza humana em feminino e masculino” (sic). E a escritora francesa Simone de Beauvoir pensou a gravidez como “limitadora da autonomia feminina, porque, alegadamente, a gravidez cria laços biológicos entre a mulher e as crianças e por isso, cria o papel de gênero”.  Mas esse pensamento já deriva do anterior, de seu (marido?), o filósofo Jean-Paul Sartre, que pregava, diferente dos filósofos da época, mesmo os existencialistas Albert Camus e o próprio criador inconsciente do existencialismo, Dostoiévsky, o grande romancista russo, inigualável até agora, no mundo.  Para fim de conversa, o filósofo atual, Augusto Cury, de todos nós conhecidos, contesta a filosofia de Sartre, pois acha “ingênua e romântica”. 

Agora ouçamos a socióloga alemã Gabriele Kuby, sobre a Ideologia de Gênero: “É a mais radical rebelião contra Deus que é possível. O ser humano não aceita que é criado homem e mulher, por isto a tal ideologia é a mais radical contra a Natureza, contra a Razão, contra a Ciência! É a perversão final do individualismo: rouba ao ser humano o que lhe resta da sua identidade, ou seja, o de ser homem ou mulher, depois de se ter perdido a fé, a família e a nação”. (..) É uma ideologia diabólica: embora toda a gente tenha uma noção intuitiva de que se trata de uma mentira, a Ideologia de Gênero pode capturar o senso-comum e tornar-se uma ideologia dominante no nosso tempo”. Que Deus nos livre a todos!

Todas essas ideologiazinhas que são importadas pelos países colonizados e pobres como o Brasil, os quais não conseguem sair do populismo e – que dá no anarquismo e socialismo et caterva, quando não num comunismo de pobres como o dos países africanos, asiáticos e americanos – vide Cuba – de onde há muito tempo já desapareceram porque eram falsas, criadas por gente que sofrera numa guerra ou noutra, num deportação ou noutra – e, por acaso, foram tornando-se escritores e filósofos.  Todos e todas – aqui, sim, vale o pleonasmo – já desapareceram no mapa do saber contemporâneo, todo baseado na pesquisa e na observação, do mundo e dos mundos. 

A dita ideologia de gêneros, ao que parece, foi trazida por anarquistas e comunistas de países que progrediram para a democracia, e já não suportam mais tanta idiotice, como França, Alemanha, Inglaterra, Suécia, entre outros. Também, ao que me parece não existe no Japão e na China, que já consideramos o espelho de desenvolvimento e capacidade de progredir sem agredir nem vizinhos, nem sua própria sociedade.   É um desejo desses maus ideólogos para acomodar aqueles que não são regulamente nem machos nem fêmeas, formando assim um terceiro sexo.  A ciência até hoje não conseguiu uma explicação genética para esses transtornos sexuais, como para muitos outros de outra natureza. Porque, por mais que se queira dizer diferente – sexo vem da cabeça, assim quaisquer manifestações do corpo humano. Então o que se pode dizer é que nada que for ideado por ideologias será verdadeiro, se não for aprovado pela ciência. Vivemos a era das ciências. As ideologias   passaram.

Alguém pode levantar-se e dizer que já na Grécia e em Roma existia um terceiro sexo. Mas é fato que aquelas civilizações faleceram, caíram de podres pela decomposição moral dos seus dirigentes e da plebe – que não tinha outro caminho.

Se temos que acreditar em mais alguma coisa – e temos certamente – apelamos para a história, quanto mais antiga melhor. A principal é a da criação do mundo, descrito por Moisés, nos seus sonhos reunidos em cinco livros da Bíblia – o Pentateuco. Segundo essa história sagrada, jamais contestada totalmente, Deus resolveu criar o Homem como “sua imagem e semelhança”. E o fez. Depois, sentindo que ele estava só e triste, criou a mulher, Eva, entregando ao casal o Éden, o paraíso aqui na terra. E disse que tomassem conta e produzissem filhos e filhas.  Não consta que dessa família tenha saído algum anômalo sexualmente, ou seja, diferente dos demais.

Em dezembro de 2012, o Papa Bento VI referiu, num discurso à Cúria Romana, que o uso do termo “gênero” pressupõe, o seguinte: “As pessoas que promovem essa ideologia de gênero colocam em causa a ideia segundo a qual têm uma natureza que l
he é dada pela identidade corporal que serve como elemento definidor do ser humano. Elas negam a sua natureza e decidem que não é algo que lhes foi previamente dado, mas antes que é algo que eles próprios podem construir
(…) A Ideologia de Gênero é uma moda muito negativa para a Humanidade, embora se disfarce com bons sentimentos e em nome de um alegado progresso, alegados direitos, ou em um alegado humanismo”. Mas a Igreja Católica reafirma a sua concordância em relação à dignidade e à beleza do casamento como uma expressão da aliança fiel e generosa entre uma mulher e um homem: “RECUSA E REFUTA AS FILOSOFIAS DE GÊNERO, PORQUE A RECIPROCIDADE ENTRE O HOMEM E A MULHER É A EXPRESSÃO DA BELEZA DA NATUREZA PRETENDIDA PELO CRIADOR”.  

Na nossa humildade, acreditamos que tal ideologia, enfraquece a mulher.  Em suma, lembrando do que já disseram os antigos: “Quando o homem quiser saber mais do que Deus, o mundo deve estar no fim”. É o Apocalipse. 

_______________________________

P. S. - Este artigo foi censurado pelo jornal O Dia, de Teresina, PI, onde eu vinha publicando matéria, todas a semanas, aos sábados. AQUI, POIS, ENCERRA MINHA PRODUÇÃO PARA AQUELE JORNAL, visto que sou favorável ao direito da palavra, em toda a sua extensão.


Thursday, December 26, 2024

 


           FRANKLIN JORGE, O ESCRITOR ESCATOLÓGICO

                                                                                                       Francisco Miguel de Moura*

 

Quando digo escatológico é metaforicamente significando o que, realmente, na filosofia grega, tinha o sentido de buscar o fim das coisas, das almas, do mundo, do universo. Franklin Jorge é um desses escritores que não medem distâncias nem sacrifícios para alcançar o sumo, a súmula da nossa cultura e civilização.

Franklin Jorge é, indiscutivelmente, um dos escritores brasileiros ainda em boa idade de produção. Portanto, não é nenhuma promessa. É, de fato, um mágico da palavra. Embora tenha nascido no Brasil e aqui permaneça, pelo seu estilo e modo de ver e sentir o homem e sua real situação como o enigma do Universo, é internacional, bem poderia ser francês ou inglês como Edgar Alan Poe, Balzac ou mesmo Shakespeare. E não brasileiro, escrevendo nessa língua tão doce e gostosa que é o português e por isto digamos que fora da imprensa internacional, como costuma fazer a mídia.

              Meu espaço diga-se que é mais fechado ainda. Ele é jornalista da maior envergadura e eu vivo muito fechado, em virtude dos anos, dos males que me fustigam, das obras que também quero terminar, morando neste cubículo de mundo que é o Piauí. Não sei se vale a pena escrever alguma coisa. Espero que sim, pois está reunindo as matérias que falam sobre ele, numa espécie de fortuna crítica e, quem sabe, eu pudesse ter um cantinho lá no seu tesouro, nem que fosse pela amizade que nos une desde já um bom tempo.

              É isto, afinal, que me move dar um depoimento crítico, uma opinião sobre o poeta, o romancista, o cronista, o crítico literário e o crítico de jornal, como um batalhador incansável na escavação da verdade que nos atormenta e terminamos por enganá-la pela força dos discursos intercalados da sociedade e a confusão que eles nos fazem.

          Somos amigos, da forma como foi dita, ou seja, por escrito, visto que pessoalmente não nos encontramos. Talvez por isto me considere insuspeito. Ele é um poeta tão original que desiguala a poesia e os poetas contemporâneos. Com um Fernando Pessoa ou um Nietzsche, pela força como abriram as portas do verbo, embora depois, de passagem, elas sejam novamente travadas, eis os dois escritores que me vêm à lembrança quando me deito a ler os livros de Franklin Jorge. São tantas as suas obras que nem seria possível enumerá-las aqui. Mas “O livro dos Afiguraves” e “Spleen de Natal”, são os dois que me vêm à memória. Tem também “Gente de Ouro” e os tantos livros de poesia, uns poucos editados e outros ainda inéditos (pelo que tenho notícia, são dez). Editor de tantos jornais, sejam os normais ou os denominados “on line”, sua escrita é profunda e variada, sinal de que tenta abarcar o mundo pela arte, o que não é uma má ideia desde que os potentados comecem a sentir o fenômeno.

              Sabemos ainda muito pouco de nós e muito menos das artes, das letras, da literatura, pois são tantos e ínvios os seus caminhos. Se pelo que sabemos for suficiente para que a nossa obra fique, a de Franklin Jorge ficará, com certeza. Eu disse, num poema, certa vez, que "tudo quanto existiu há sempre de existir" . E é nesta crença que nós baseamos, escritores e artistas.

              Gostei muito de uma frase que Franklin Jorge escreveu, falando sobre Faulkner, aliás, outro autor que lhe é, em tamanho, semelhante; em estilo, seguro; em imaginação, fabuloso: “Um escritor, se for um bom escritor, será arrastado por demônios, perderá a paz a decência, o orgulho, a honra, a felicidade e a segurança, desde que possa escrever, pois a arte não tem nada a ver com paz e alegria”. E acrescenta: “A impiedade seria um dos atributos mais notáveis do escritor que se compraz em sua arte e se mantém, permanentemente, ocupado” (Chatham, pg. 11/12).

              Sua prosa, conforme referi num artigo de antes, sobre “O livro dos afiguraves”, sobre a cidade que estuda e sente suas pessoas (almas) mais significativas em popularidade e singularidade, é uma prosa vigorosa, de quem sabe o que faz, de quem se finca no que faz.

              Finalmente, para saber quem é Franklin Jorge havemos que ler, reler e tresler suas obras nem que seja porque duvide de Deus ou do Diabo, nem que seja porque duvide que a leitura vale a pena. Vale ser vivida em letra e espírito, mais do que a imagem de cores que desbotam. Ao contrário, a cada vez que abrimos uma página de Franklin Jorge, mesmo sem conhecê-lo pessoalmente, lá o encontra, lá duvida, lá espera, lá desespera, lá se vê também como um ser inacabado, embora vivo. Vivo por que? Vivo porque escreve, vivo porque lê, vivo por que ama desse amor esquisito que não precisa de nada - a não ser do som, da letra, da luz, do sentir em todos os sentidos.

              Desculpem-me, os leitores meus e de Franklin Jorge, pela pressa, se a conversa está comprida, corte-a, se o sono e o cansaço já chegaram sente-se, deite-se, pois sua obra é incomparável. Por isto mesmo, de propósito não falei em nenhum contemporâneo. Poderia ter lembrado O.G. Rego de Carvalho, mas como ele já se foi, respeitemos o seu silêncio, pois o que não é silencioso, o que é medo e o que não é mentira, tudo isto foi escrito e não passa. Embora diga a Bíblia que tudo passa. Mas a palavra não passará, justo por ser o que somos. E se fomos e se somos, não sumiremos. Assumiremos, nas nuvens, no céu ou na terra, na lua, no sol ou em qualquer estrela onde entraremos sem pedir licença, com a nossa luz, a “Irene”, do poema de Manuel Bandeira.

____________________

 *Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro, mora em Teresina (PI), membro da APL e da UBE-SP

 

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