A BUROCRACIA E O “JEITINHO BRASILEIRO”
Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro
Houve um tempo em que o Presidente da
República criou o Ministério da Desburocratização, nomeou e manteve o
respectivo ministro e muitos papéis e normas burocráticas foram apagadas da
vida do brasileiro. Durou pouco, mas foi muito produtivo, social, econômica e
ecologicamente. Ninguém sentiu falta da papelada desnecessária, a vida ficou
mais fácil e nem por isto aumentaram os desvios funcionais e os escândalos como
recentemente. Não são montanhas de
papel, carimbo, selo (ele, o coitado, já voltou) que vão evitar os grandes
desvios de verbas públicas, ou o desaparecimento delas – que todos nós
adivinhamos seu destino. E enquanto medidas outras são “estudadas” pela classe
burocrática para evitar o mal, maior distância ela vai acrescentando entre o
público e o privado. Esta é uma das pequeninas grandes questões nacionais, por
exemplo. Por que se tem que esperar dias e até meses, senão anos, para que um
funcionário aponha um carimbo num documento? Para que se exigem tantas cópias
juntas a um requerimento? Uma xerox vale mais que a caligrafia do proprietário
do seu CPF ou do número de sua identidade aposta no documento? Só por que
inventaram a máquina copiadora? E para que serve o computador com enorme
capacidade de armazenamento, diminuindo o uso do papel e, portanto, colaborando
na preservação da flora e da conservação da vida no planeta? – “Ah, mas existem os vírus que corrompem os
programas e aí tudo vai pro beleléu.” – Mas existem também os antivírus e os
cds com capacidade impressionante de armazenar dados, estatísticas, etc.,
contraponho.
Na minha vida de aposentado, salvo as
filas desobedecidas, nunca encontrei chatice maior do que ter que levar, por
exemplo, 5 cópias da planta de um terreninho para a Prefeitura, simplesmente
porque a gente, o próprio dono, está querendo que a área do terreno do imóvel
seja retificada – e no meu caso retificar para maior a importância a pagar
Se burocracia tem que existir, que
seja a mínima. Nenhuma burocrata evitou furtos, adulterações, crimes, nada. O
que faz o homem ser melhor em sociedade? Obedecer às regras da lei sem tanta
fiscalização através de duas coisas simples: educação doméstica e educação
escolar, ou seja, família bem estruturada moral e financeiramente, e escola (uma
boa escola). Aliás, na Inglaterra, a Constituição e outras leis não são
escritas, estão na tradição, nos costumes, na ética social e pessoal. A
burocracia, porque nas condições atuais da sociedade tem que existir, é um mal
desnecessário. Nós a suportamos como um peso muito pesado; atrasa o
desenvolvimento, o progresso, o trabalho, carcome as finanças do pobre
brasileiro que, em média, ganha muito pouco. A burocracia trabalha a favor do
amolecimento da ética, da moral do cidadão, deixando tudo para as exigências
legais, “decretais” e “portarinheiras” da administração publica.
A ética social só pode revitalizar-se em contato com a liberdade, o livre
arbítrio, a livre satisfação de ser honesto. Mas o Brasil está longe disto. Os
burocratas se colocam viseiras para só enxergar em linha reta, para não serem
diminuídos em seu poder. A criatura, o cidadão, o homem privado desaparece em
favor do papel, do selo, do desenho, do carimbo, da xerox e outros entraves dos
mais inimagináveis gêneros.
Ao lado dela, a burocracia, floresce o “jeitinho
brasileiro”, que não deixa de ser um descaminho necessário para que aquela não
se torne tão massacrante para o cidadão.
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Nota: Esta matéria foi escrita e publicado há alguns anos, nos jornais, mas
ainda tem certa validade. Às cópias falados, junte hoje o telefone, o celular,
a internet, que se interferem mais para prejudicar que para facilitar. Por
exemplo, marcar um médico por telefone, principalmente para médicos do INSS. É
um Deus nos acuda. FMM
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